Maria de Lourdes Maia Gonçalves - AIL
O escultor produz a sua obra a partir de matéria-prima concreta. O escultor de palavras compõe a sua arte através da matéria não física, se vale da palavra escrita para expressar suas emoções, sua coragem, como Castro Alves, ao recitar a poesia Navio Negreiro a contragosto de fazendeiros que submetiam os negros à escravidão.
O ato de escrever consiste em soltar-se para o mundo. Trazer os sentimentos do coração ao papel não é uma tarefa sempre fácil, é presiso acreditar nas causas que defende, é necessário saber mostrar a sua essência, pois quem escreve expõe o seu estilo e, sobretudo, a sua alma.
José de Alencar, o precursor do romantismo no Brasil, escreveu seus romances indigenistas O Guarani e Iracema, numa época em que seus contemporâneos brasileiros escreviam como se vivessem em Portugal. Alencar valorizou os do seu tempo e da sua terra. O idílio de Martim com Iracema pode ser entendido como conversa de Alencar com seus conterrâneos. Sem dúvida, um belo exemplo de amor à terra natal.
Quem escreve, sabe que pode narrar fielmente uma história, sem, no entanto, abrir mão da liberdade de artista. A escritora e educadora Cecília Meireles, ao escrever Romanceiro da Inconfidência deixa isto bem claro, ao afirmar “Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.” Dentro de sua liberdade poética, o escritor busca sempre a perfeição técnica, mesmo que escreva sobre as coisas simples do cotidiano, como soube fazer com eficiência o escritor Mário Quintana, em Sapato Florido.
Há os que se imortalizaram escrevendo para crianças, como Monteiro Lobato. O Sítio do Pica-Pau Amarelo encanta por sua criatividade e leveza. Outros usaram as palavras para construir uma análise profunda e realista do ser humano, destacando suas qualidades e defeitos, como acontece em Dom Casmurro, obra-prima de Machado de Assis.
Carlos Drummond de Andrade, ao imprimir o seu pensamento através da escrita, retratou os conflitos sociais, a família e os amigos, a existência humana. Seus poemas Canção de Berço e Os ombros suportam o mundo, são centelhas da alma do poeta de Itabira.
Portanto, quem escreve, traz no peito a sensibilidade latejante. E neste terreno fértil de pensamentos germinam as idéias e florescem as produções. O saber é dividido, o conhecimento é compartilhado e ganha o mundo a plantar novas sementes. Como eu, aqui entre vocês. Tenho a honra e a oportunidade de deixar minhas emoções se juntar às suas neste momento de congraçamento onde a colheita literária é farta, a palavra ganha vida e se propaga numa cadeia ininterrupta e progressiva.
É, meus amigos, escrever nem sempre é fácil, mas apaixona e contagia
[Autora: Maria de Lourdes Maia Gonçalves - AIL]
É tão bom escrever! :)
ResponderExcluirParabéns e vida longa!
Beijos,
Maria de Fátima Maia