quarta-feira, 20 de abril de 2011

Temas polêmicos para reflexão! Um trabalho do Acadêmico Paulo Roberto Tavares e Acadêmicos convidados da AIL.

Mais uma surpresa elaborada com pesquisa, troca de informações,  atenção e enorme entrosamento do acadêmico Paulo Roberto Tavares e acadêmicos convidados para o desenvolvimento  do ensaio abaixo. Uma série de  trabalhos que nos levam a refletir sobre temas muitas vezes esquecidos e que fazem parte da nossa vida. Isto aconteceu com o texto sobre a PAZ, TÉDIO e o REMORSO.  O que fazer agora com a curiosidade ? Qual será o próximo tema abordado? Só esperando o próximo mês!...

                                  
     A   DOR  INVISÍVEL  DA  ALMA

Participação Especial - Soneto
Maria Lourdes Maia Gonçalves
                      Yvelise de Queiroz Araújo e Crepaldi
                      Paulo Roberto Tavares Pereira
                      Acadêmicos da AIL - Março/2011

                    Remorso – A dor invisível da Alma
O remorso é um sentimento sobre os acontecimentos e até mesmo sobre determinadas atitudes que tomamos no passado. É uma sensação que nos deixa pensativos e reflexivos porque nos lembramos que dissemos o que não era para ser dito ou algo que fizemos e que não era para ser feito.
É sempre bom e proveitoso que tenhamos conhecimento de onde vem a palavra remorso. Ela tem origem latina, vem de “remorsus”, particípio passado de “remordere”, que significa nada mais e nada menos do que “tornar a morder”. Assim podemos facilmente ligar e entender que significa dilacerar, atacar, satirizar, ferir, torturar, atormentar. A própria etimologia dessa palavra já nos dá uma ideia de como esse sentimento que vem acompanhado de angustia e vergonha é doloroso e aflige os Seres Humanos, porque vem da consciência de termos agido mal, o que nos faz sentir em seguida o arrependimento, gerando uma culpa que chega às raias da lamentação do erro causado num determinado passado.
Meu primeiro contato com essa palavra que exprime um sentimento algoz foi quando ingressei no primeiro ano do curso ginasial. Isso lá nos idos de 1956 quando os Padres Missionários do Sagrado Coração assumiram a direção do Colégio de Itajubá.
Tínhamos aulas de religião todos os dias da semana. Mas havia um padre responsável pela disciplina dos alunos, Padre João Baptista van Royen, holandês, sisudo, carrancudo, porém muito preocupado com a formação dos jovens, como tão usual naquela época, onde a escola era formadora de cidadãos e impregnava nos jovens a importância da cidadania.
Padre João, em suas aulas de religião, sempre falava do remorso, com o seu sotaque forte e característico de bom holandês que era. Dizia-nos que era o pior sentimento que se poderia ter. Mas eu, em tenra idade e na pré-adolescência, não conseguia captar a mensagem do sacerdote, porém ficou fixado em minha mente esse sentimento e talvez tenha sido ele, e com certeza o foi, quem colaborou e muito na formação dos jovens alunos que um dia se tornariam Homens.
E assim, com o decorrer do tempo, pude entender que o remorso pode se instalar no Ser Humano, na sua alma e chegar até mesmo a se tornar uma doença, um grande desgaste emocional que nos deixa com dores de cabeça, mau funcionamento dos órgãos vitais. É como se fosse um massacre no corpo causado pelo sofrimento da alma.
Se analisarmos bem, remorso e saudade são dois sentimentos que se tocam e se diferenciam entre si. Ambos estão voltados para acontecimentos do passado. O remorso leva a pessoa a se fixar em um passado sombrio. A saudade, a um passado venturoso. No remorso, gostaríamos de poder retroceder no tempo e recomeçar de forma totalmente diversa. Na saudade, de reviver tudo novamente. Um nos faz sofrer. O outro nos faz sonhar. Mas ambos nos aprisionam, fazendo com que nos afastemos do presente, único momento real de nossas vidas.
Ter remorso é viver prisioneiro em si mesmo. É autopunição. É não aceitar as limitações que temos como Seres Humanos, ou seja, não aceitar que somos imperfeitos e passíveis de erros e enganos.
Mas será que poderemos reverter tal situação? Sim, está em nossas mãos buscarmos a cura desse mal e aniquilar a dor que sentimos. Ou seja, livrarmos desse remorso que corroi a nossa alma, invade todo o nosso ser como uma erva daninha que nos deixa com a incapacidade de pensar e refletir. Porém no remorso também há o seu lado positivo. Ele funciona muitas vezes como um sinalizador para que passemos a nos preocupar com a nossa maneira de agir numa determinada situação, desde que acolhamos o aprendizado que ele nos trás. Assim, com certeza, iremos fazer melhores escolhas, sabendo como lidar com o imprevisto e demonstrando uma maturidade para enfrentar situações similares no futuro.
O remorso age em nosso corpo ativamente. Ele se instala com o firme propósito de gerar um drama de consciência, e aí sim, nos deixa com a sensação de fracasso e desapontamento, fazendo-nos sentir impotente. Esse sentimento gera um sofrimento que afetará nossas vidas de forma negativa, deixando-nos sem paz interior, impedindo-nos de viver o presente, porque estamos sempre presos àquele passado, sendo impossível retroceder no tempo para consertar aquela situação que nos deixou com remorso. O nosso presente se torna um fardo de pesar. É o drama de consciência que passa a nos guiar. Chegou, então, o momento de ultrapassarmos os limites do remorso e procurarmos os recursos internos de todo o nosso ser para iniciarmos uma nova fase de aprendizado e somente por seu intermédio é que conseguiremos vencer esse mal que aflige a nossa alma.
Todos nós já enfrentamos em maior ou menor grau algum remorso na vida. Seria tão bom se tivéssemos o dom de prever as consequências de nossos atos ou omissões e, melhor ainda, se a vida fosse só um ensaio e pudéssemos vivê-la de novo corrigindo tudo que deu errado antes. Nesse caso, o remorso e todo o sofrimento que ele acarreta não existiriam. Mas se as coisas não podem ser assim, devemos ser mais indulgentes conosco e nos perdoar por sermos humanos e imperfeitos. Só dessa maneira conseguiremos aceitar que iremos falhar várias vezes e que a vida deverá prosseguir sempre. Do passado só devem restar as boas lembranças e o aprendizado. Não a dor, pois de nada adiantará cultivá-la através do remorso, pois ela nos impedirá de continuar a nossa caminhada neste mundo.
Quando praticamos um ato que não deveria ser feito ou quando dizemos o que não deveria ser falado, naquele momento acreditamos que tal atitude é certa e correta, porque expressamos o que realmente sentimos. Não conseguimos ainda ter remorso, porque tal sentimento somente acontecerá quando passamos a perceber que agimos com imprudência e inconsequência. A partir daí a lembrança daquele momento se torna um tormento para a nossa alma, porque atropelamos os limites da razão e ficamos desgovernados onde o zelo e a sensibilidade estão ausentes e estamos desprovidos da virtude por não ter agido com prudência e parcimônia. E assim a poetisa e confreira Lourdes Maia em sua poesia “Percepções” nos mostra que devemos agir como boas criaturas porque é melhor sentir amor do que agruras.

PERCEPÇÕES
                  Maria de Lourdes Maia Gonçalves

Quem atropela os limites da razão,
E sem controle, fica desgovernado,
Comete o erro crucial de dar vazão
Ao que jamais deveria ser falado.

Expressar com zelo a sensibilidade,
É tarefa humana das mais virtuosas.
É saber a hora de cada verdade,
Ter o corpo são, a alma esplendorosa!

Pois bem, sejamos as boas criaturas
Que possuem valiosos dons da vida!
Melhor sentir o amor do que as agruras...

Paz? É bem possível de ser conseguida!
A essência nascida das venturas
Perfuma aquele que lhe dá guarida.

Tudo na vida são experiências boas e ruins. E são essas experiências que nos tornarão seres humanos melhores. A partir do momento em que entendermos que o remorso em si não nos leva a nada de bom e soubermos encará-lo como um sentimento que não deve ter nenhuma outra função a não ser nos ensinar, possamos enfrentá-lo de forma mais amena, dando a ele o tamanho que ele realmente tem. Mudaremos o nosso foco de pensamento para entender que o que passou, bem ou mal, passou. Nunca terá volta. E a vida continua...

Abraços e muito obrigado.
Yvelise de Queiroz Araújo e Crepaldi
Paulo Roberto Tavares Pereira
Acadêmicos da AIL.
Março/2011





REMORSO

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