segunda-feira, 18 de abril de 2011

Contribuição dos Acadêmicos Yvelise de Araújo Queiroz e Crepaldi, Paulo Roberto Tavares Pereira ~ Um trabalho conjunto que vale a pena ser conferido ~


Academia Itajubense de Letras
 Tédio – O Vazio do sentir

Os Academicos Yvelise de A. Q. e Crepaldi e Paulo R. T. Pereira
apresentando seu trabalho na reunião da AIL. 



                                                                                                                 
Yvelise de Araújo Queiroz e Crepaldi
Cadeira 35 – Patrono – Paulino Augusto dos Santos
Paulo Roberto Tavares Pereira
Cadeira 21 – Patrono – Cel. Joaquim Francisco Pereira Júnior
                Participação Especial – Poema Sonia Maria de Faria
                                                           Acadêmicos da AIL
                                Abril/2011

                            Tédio – O Vazio do Sentir
Por que cargas d’águas alguém se interessaria em escrever sobre o tédio? Talvez seja porque não teria mais nada a fazer ou simplesmente porque conhece alguém que se encontre com este estado de espírito inerte e queira ajudar? Pode ser.
Tudo acontece de repente. Amanheceu frio e o nevoeiro cobre a cidade e o campo. A chuva cai de leve e o Sol ainda não surgiu e nem mesmo está com vontade de aparecer. Aquele livro predileto que está sempre na cabeceira da cama está fechado.
A música predileta não se quer ouvir. O telefone toca e não se quer atender. Não se quer ouvir nenhuma voz. Apenas resta o silêncio e a introspecção. Silêncio este que por vezes équebrado por um barulho à distância ou simplesmente pelas batidas do próprio coração. É neste momento que o tédio invade todo o ser o imobilizando. Nada mais passa a ter importância.
O tédio é como uma nuvem cinza que envolve o mundo que vivemos e se manifesta de formas diferentes. Cada pessoa, que é única por si só, tem as reações mais diversas quando o tédio se instala no interior do ser. Umas partem para os centros comerciais empunhando um cartão de crédito, buscando desesperadamente um meio de se livrar desse mal, desse estado de inércia e introspecção. Outras se sentam à frente do televisor para buscar algo interessante, mas naquele momento nada lhes interessa. Como encarar um programa de televisão onde os telespectadores são taxados como ignorantes e incultos em face da programação apresentada?
Tal situação só vai agravar ainda mais um estado completamente tedioso. Ainda existem aqueles que fogem para uma mesinha de bar como se beber fosse a solução e se esquecem que atrás da procura dessa cura estão prestes a arrumar mais uma doença.
O tédio é um sentimento de vazio que toma conta do ser. Parece a quem o sente que todos os seus sentimentos e vontades desapareceram de repente. Nada parece capaz de tirá-lo daquela inércia diante do mundo. Tudo parece não fazer sentido. A vida passa de colorida a preto e branco, ficando sem graça, sem motivação. Aliados ao tédio vêm o cansaço, o desânimo, aquela vontade de ficar quieto em um canto, quase invisível.
Antigamente dizia-se que o tédio era um estado de espírito que incomodava somente reis e rainhas. A monarquia sofria desse mal em razão da vida de nobreza e por nada fazerem para conseguir matar o tempo. O ócio os levava ao tédio. Hoje em dia é seguro dizer que esse mal ataca as pessoas em diferentes faixas etárias. Há algum tempo as crianças jamais sofriam desse mal, porque tinham a capacidade de criar brincadeiras recreativas e interagirem com os amiguinhos e companheiros de mesma idade. Muitas delas conseguiam até se distrair sozinhas. As crianças são seres em formação, portanto dotadas de cérebros que mais parecem uma esponja. Tudo é absorvido, porque tudo que lhes é apresentado é novo e logo se torna interessante. Não faltam informações a serem processadas. Os pais, por sua vez, procuram desenvolver atividades para entreter seus filhos, sendo compelidos a inventar maneiras diferentes e diversas para ocuparem as suas horas ociosas. Dá-se inicio a um novo aprendizado onde a família os ocupa com atividades, e, consequentemente, os filhos terão mais facilidades na vida e irão encarar esse novo mundo com galhardia e sabedoria.
O tédio é esse sentimento que subitamente faz com que o mundo pare e um novo dia não mais surja, deixando o pensamento confuso vagueando como os grãos de areia e a face, estranha, sem cor, sem expressão por não ter porque gritar. E, assim, a poetisa e confreira Sonia Maria de Faria exalta o tédio em seu poema com grande sabedoria e inspiração quando, ainda, diz que tudo se emaranha. É um mundo insano, só desengano, nada sente, mas sente tudo.

Tédio
A Academica Sonia Maria de Faria declamando
 um poema em reunião da AIL.
Sonia Maria de Faria

De repente...
O mundo pára.
O dia não acorda
E... A vida em preto e branco.
A tristeza se instala...
O sol se esconde...
Cadê o seu sorriso franco?
Difícil imaginar... Onde?
O pensamento confuso vagueia
Como os grãos de areia
Que a onda leva e traz.
– Inércia do corpo... Nenhuma resistência...
– Inércia da alma... Sem consciência...
Tudo se faz difícil, incapaz.
A face, estranha, sem cor,
Angústia... Sofrimento... Dor...
Existe algo a gritar?
Ou será o vazio a pesar tanto,
A causar, assim, tanto frio?
Tudo se emaranha...
O coração combalido se fecha...
Na verdade... Nada sabe explicar...
Mundo insano... Só desengano...
Nada sente? Sente tudo?
Estranha sensação dele se apossa
Não deixa brecha
Nada entra... Nada sai...
Ao comando de si mesmo
O tempo, com sabedoria
Sem pressa, sem rispidez...
Recoloca cada coisa em seu lugar.
Num espreguiçar gostoso
Faz despertar a harmonia
Ela, chuva criadeira, traz novo o dia
E... A vida renasce mais uma vez...

O tédio pode ser causado pela rotina diária, quando se age como autômato em tarefas corriqueiras, a maioria delas enfadonhas, mas também pode ser causado pelo excesso de satisfação, quando se deixa de almejar algo novo e acha-se que já se viveu tudo o que teria direito. O tédio reflete um sentimento de ausência de ideais, de sonhos, pois quem está sempre planejando coisas boas para si e para os outros não tem tempo para o tédio. Com o advento de novas tecnologias, em especial dos computadores e telefones celulares, a vida se tornou muito mais competitiva e adotou um ritmo frenético no qual a pessoa é chamada constantemente à ação. Exige-se que ela seja rápida em tudo. Precisa-se estar disponível 24 horas e, com isso, muitas vezes não sobra tempo para a contemplação pura e simples, fonte de enriquecimento espiritual.
Mas com esse avanço tecnológico e até mesmo pela Revolução Industrial a produção em massa que era uma raridade entrou nas vidas das pessoas. Os produtos industrializados começaram a ser fabricados em série, com altas técnicas de linha de produção desenvolvidas e aos poucos os Homens foram substituídos pelas máquinas. Restou no mercado de trabalho uma minoria. E essa minoria passou a ser composta de Seres Humanos paralisados em edifícios e em cantos de salas a espera da compreensão e de como manter sua família, mas realmente o que sobrou disso tudo foi o tédio.
Essa constante solicitação a que se está sujeito no mundo atual pode levar ao tédio, dando uma sensação de que nada está se fixando dentro da pessoa. A sensação de que cada um é tão fugaz e descartável quanto tudo o que está ao redor. Está sendo criada uma sociedade vazia de sentimentos e cheia de tédio. Nem mesmo os países denominados de desenvolvidos se safaram desse enfadonho e triste sentimento, que se tornou uma constante na vida das pessoas, não importando mais sua idade, sua classe social. Muitos até buscam fugir dele através da emigração. A expectativa de iniciar uma nova vida em um novo lugar aparece como um possível remédio contra o tédio. E isso afetou em cheio os países socialistas que não conseguiram aniquilar o tédio da sua população.
O tédio não é uma piada e nem mesmo motivo de pouca atenção, porque realmente é um problema sério. Ele se torna o centro, sendo de grande importância, porque se não fosse assim não existiriam tantas empresas com diversos entretenimentos para que as pessoas se livrem desse mal. Esse tédio que num passado não muito remoto somente atacava os monarcas e aristocratas, hoje está presente em todas as classes sociais, sendo, portanto, um mal universal. Estamos todos num grande caldeirão e todos nós poderemos um dia sentir esse sentimento que aflige a nossa alma.
De qualquer maneira, seja como for, realmente não existe solução plausível para resolver essa questão que varia de acordo com cada pessoa que o vivencia.
Deve-se procurar encarar cada situação dentro do seu próprio contexto, seja pelas massas de crianças e jovens, seja pela dos desempregados, aposentados e cidadãos em geral ameaçados pela fome, guerra ou epidemias. Entretanto, resta-nos o consolo de que o tédio tem vida curta. Da mesma forma como veio, vai-se embora diante de um estímulo correto recebido no momento exato e que dará um novo ânimo para encarar a vida e seguir em frente. Entretanto, se um dia tiver que ser enfrentado, que sirva pelo menos como um momento de reflexão para que a vida seja avaliada e se saiba que nem tudo está sendo em vão.



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