terça-feira, 8 de março de 2011

UM CARNAVAL DIFERENTE ~ Uma crônica para a terça feira de carnaval ~

                    UM CARNAVAL DIFERENTE

                                          Carlos Alberto da Silva- AIL

Da janela do quarto andar de um apartamento, eu vi um carnaval diferente.
Iniciava-se muito mais cedo do que os desfiles e bailes ricamente ornamentados e longamente mostrados pelas emissoras de TV.
Diariamente, às 7 horas da manhã, chegavam todos com suas roupas usuais e as trocavam, em um barraco de madeira, pela fantasia diária.
Havia, como em toda escola de samba, as mais diversas alas.
A que mais me impressionava era a bateria. Os mais variados instrumentos se distinguiam. A cuíca, com seu conhecido ronco, era sonoramente representada por uma imensa misturadora de concreto manual mantida, constantemente, em rotação por animados ritmistas.
Outros movimentavam os chocalhos, pochetes de pregos presos à cintura, enquanto as marteladas imitavam os sons dos bumbos, na marcação do samba, à medida que executavam as fôrmas de madeira.
Já o mestre-sala e a porta-estandarte, com suas roupas mais elaboradas, iam e vinham, em toda extensão da pista, com os projetos nas mãos discutindo e esclarecendo cada ponto da obra, que se definia.
O sol escaldante, ao contrário dos desfiles formais realizados na amenidade da noite, não arrefecia o entusiasmo daqueles foliões. Não dispensavam, é claro, as constantes buscas às moringas de água sorvida aos enormes goles.
Estavam longe de imitar os seus irmãos, nos camarotes VIP′s montados nas avenidas, que se deliciavam com bebidas nacionais e estrangeiras em ambientes climatizados.
Mantiveram-se assim durante todos os dias de folia e continuaram, por toda a semana, na execução da obra.
Afinal, para estes brasileiros forjados na labuta diária, o carnaval não possui datas estabelecidas. Ele dura o ano inteiro ao som das necessidades da vida e com os passos e movimentos oriundos do aprendizado de longas e árduas jornadas de trabalho.







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