sábado, 28 de abril de 2012

ACADÊMICOS EM PAUTA.

Paulo Roberto Tavares e Yvelise Queirós Araújo e Crepaldi deram uma pausa nos seus trabalhos a 4 mãos e convidados.
Deixaram saudades!... Hoje voltaram a nos brindar. E, que brinde!... Parabens !
Vale a pena ler o ensaio abaixo. Convido a todos:


                      Academia Itajubense de Letras
Momentos – Gotas de Vida

                       GOTAS  DE  VIDA



                                            Participação Especial – Poemas
                Gildes Bezerra


Yvelise de Queiroz Araújo e Crepaldi   
 Paulo Roberto Tavares Pereira        
 Acadêmicos da AIL.Abril/2012

                         Momentos – Gotas de Vida

A nossa vida é feita de momentos. Momentos de ternura, momentos de alegria, momentos de desavença, momentos de paz e até mesmo momentos de guerra. Mas os momentos sempre são marcantes. Pode-se dizer com segurança que o momento é um espaço de tempo indeterminado. São instantes, situações, ocasião oportuna, durante os quais acontece alguma coisa ou às vezes nem mesmo nada acontece. Nossa vida está repleta de momentos bons, alguns ruins e outros fantásticos. Existem momentos ímpares como contemplar o por do Sol, encontrar muitos e-mails de amigos; o primeiro beijo, ouvir a chuva lá fora ao se deitar, uma boa conversa entre amigos, tão raras hoje em dia, encontrar um perfume que nos faz lembrar alguém, receber em nossa casa, encontrar velhos companheiros e relembrar juntos aqueles momentos alegres que tivemos.
O nosso confrade e poeta Gildes Bezerra faz uma bela descrição dos sentimentos que envolvem o pequenos e grandes momentos da vida, narrando-os poeticamente em cinco tópicos. No Primeiro Momento nos fala do surgimento do amor, sol quente e voraz, de uma dor que canta e faz a canção desatinar, do ciúme e possessão, da luta sem paz, cuja alegria grande e enorme maior tristeza traz.

Primeiro Momento


É um sol quente e voraz
E uma lua sem luar.
É uma dor que canta e faz.
A canção desatinar.
É uma luz que muito brilha
E uma noite de clarão.
É ilusão que segue a trilha,
Que conduz ao coração.


É uma bomba, uma centelha
De uma próxima explosão.
É uma rosa mais vermelha
Do ciúme e possessão


É o punhal de uma vingança,
E o veneno de uma taça.
É o carrasco da esperança,
E o arauto da desgraça.


É o cansaço que não dorme,
Uma luta sem a paz.
É a alegria grande, enorme,
Que maior tristeza traz

Os momentos são tão efêmeros por sua própria natureza e ao mesmo tempo podem se perpetuar na nossa memória para sempre. Há momentos que valem uma vida, já dizia o ator Al Pacino em “Perfume de Mulher”. Momentos que, só por tê-los vivido, já valeu a pena nascer. Se analisarmos a nossas lembranças, descobriremos que momentos considerados banais podem tomar uma proporção especial e se transformarem em momentos de pura felicidade quando nos lembramos deles depois de muitos anos. Porém o mais interessante é que há momentos na vida em que temos que abrir mão de tudo o que fazia sentido, das nossas verdades e do que reputávamos como sendo os mais preciosos valores da nossa existência. Com o nosso crescimento e amadurecimento constatamos que certos momentos se tornaram inúteis, devendo ser relegados ao nosso passado. Mas um olhar mais atento nos faz ver que mesmo eles não foram totalmente inúteis porque sempre conseguimos aprender algo substancial para a nossa formação.
Muitas vezes descobrimos, em um dado momento, que as vigas mestras que asseguravam a nossa sustentação e que entendíamos como certas e corretas caem vertiginosamente, independente da nossa aceitação ou da nossa simples recusa. Surpresos e inconformados ficamos sem saber para onde ir, nada nos consegue alegrar, motivar ou seduzir e nesse compasso de espera, vamos assistindo à fragmentação das nossas estruturas, sua transformação em quimeras.
E o poeta e confrade Gildes Bezerra no seu poema Segundo Momento nos mostra a importância da esperança, que nos faz seguir em frente até mesmo contra as razões, como um guerreiro destemido que desfralda sua bandeira em busca da lava incandescente no apogeu da atividade mesmo no furor mais inclemente da maior das tempestades.

Segundo momento


É o que faz seguir em frente
Contra todas as razões.
É uma lógica inclemente
Que dirige as emoções.
É uma voz vaticinante
Que anuncia o grande drama.
É o adulto ainda infante
Com brinquedo que ele trama.


É a bandeira rubra e quente
Do guerreiro destemido.
É o castelo do indigente
Conquistado e demolido.
É o que tem força motriz
E a energia do reverso.
Faz feliz, muito infeliz,


Quem se faz rima em seus versos.
É uma lava incandescente
No apogeu da atividade.
É o furor mais inclemente
Da maior das tempestades.

Nestes momentos que até parecem ser uma eternidade, nada e ninguém podem fazer algo por nós. Ficamos à mercê de transpassar as barreiras do tempo, esperando que esses momentos se expirem. Até parece que a Natureza se cala e Deus perde a fala, indiferente ao nosso torpor.
Em meio ao sofrimento, esmiuçamos o que sobrou de nós, e remexendo entre os escombros, descobrimos que algo ainda não morreu. Apenas aquele momento passou e esperamos que esta pequena centelha, tênue e frágil, aguarda uma viagem do destino que certamente nos surpreen-derá com novas alegrias e com tantos outros desatinos. Gildes Bezerra, no Terceiro Momento de sua poesia, retrata a dor da despedida quando o amor em desatino deixa o céu ardendo em brasa, em um caminho sem destino, onde a ausência da pessoa amada é uma tarde de tristeza, noite alucinada e tonta.

Terceiro momento


É o amor em desatino,
E o céu ardendo em brasa.
É um caminho sem destino
No deserto que se abrasa.
É uma estrada de se andar
E um momento sem se ver.
É um instante de implorar
E um mau jeito de não ter.


É uma arma que semeia
Em um campo de batalha.
É a manhã que não clareia
E a espada que retalha.
É o sangue da ferida,
Que não pára de esvair.
É o momento da partida
Em um cais de não partir.


É uma tarde de tristeza,
Noite alucinada e tonta.
Madrugada sem beleza
E manhã que não desponta.

Devemos, pois, observar que uma das alegrias da vida é saber que a cada momento renascemos e em cada renascer podemos nos sentir motivados e descobrir pessoas como nós, limitadas e circunstanciadas. Quando surgir um momento de dor, nossa ou alheia que nos afete, ela pode ser aliviada dispensando a quem precisa uma palavra de conforto para reerguer o espírito é, então, o nosso momento de atenção verdadeira. O nosso momento de dizer ao outro “Eu gosto de você e você é importante para mim!”. Um momento simples como esse pode mudar a vida de alguém para sempre.
Em contrapartida, sabemos que há momentos em que as pessoas nos falam e nem sequer as ouvimos, ou por falta de interesse ou simples descaso. Desperdiçamos, assim, uma preciosa oportunidade de troca de experiências com o nosso semelhante. Sabemos que muitas pessoas marcam nossas vidas exatamente por dividirem conosco nossos bons ou maus momentos. Tornam-se pessoas especiais porque estavam simplesmente à disposição para nos ouvir. É gratificante saber que o valor de cada uma delas não é medido pelo espaço que ocupa em nossos corações, mas sim pelos momentos de saudade que desfrutamos quando estamos distantes delas.
E Gildes Bezerra, em seu Quarto Momento, nos deixa extasiados quando diz da torrente caudalosa que transborda e tudo arrasa quando chega a solidão e o soluço da tragédia, somente sobrando o sonho alucinado.

Quarto Momento


É a torrente caudalosa
Que transborda e tudo arrasa.
É uma chama perigosa,
Que incendeia o lar da casa.
É o amor em desespero
Com os olhos sem a luz.
É, no céu do destempero,
Morta estrela que conduz.


É na estrada a solidão
Ao redor de muita gente.
É olhar sem a visão
E não ver o que se sente.
É a loucura edipiana
E a risada da comédia.
É o oráculo que engana
E o soluço da tragédia.


É a virtude do pecado
E o licor da insensatez.
É o sonho alucinado
De uma estória, era uma vez...

As coisas boas e especiais devem ser desfrutadas de forma intensa como se estivéssemos vivendo o último dia da nossa existência terrena. Agindo assim, esses momentos não serão esquecidos, mas guardados na memória e no coração como as estradas que caminhamos, as batalhas que enfrentamos, as amizades cultivadas, os amores vividos, as folhas colhidas e os espinhos arrancados.
Estar no lugar certo no momento certo pode ser altamente recompensador ou não, dependendo das circunstâncias, como naquela bela história de um soldado que, mesmo sem a permissão de seu comandante, foi em busca de seu colega caído no campo de batalha. Mesmo ferido, reuniu condições para trazê-lo. De volta ao quartel, o comandante replicou: “Eu lhe disse que ele poderia estar morto. Valeria a pena ir lá e trazer um cadáver?”. E o soldado moribundo respondeu: “Claro que sim, meu comandante! Quando o encontrei, ele ainda estava vivo e me disse: Tinha certeza que virias!”.
E finalmente Gildes Bezerra, no Quinto Momento, encerra esse conjunto de poemas resumindo o que seria viver a vida.

Quinto Momento


É viver os desenganos
E a tristeza que se espalha.
É a conquista, o gozo, e os danos
E o bordado da mortalha.


O pior momento da vida não é o da morte, mas aquele em que constatamos que fomos esquecidos por alguém que amamos, o momento em que vemos a indiferença no rosto daquele para quem abrimos nossos corações. Portanto, quando nos sentimos livres e soltos vivemos sem cobranças, encarando a vida com amor e carinho numa reciprocidade, alimentada da boa energia e tendo consciência do papel que desempenhamos nesse teatro trágico cômico da vida. Viver cada ato dessa peça com emoção torna marcantes todos os momentos da nossa simples existência de meros mortais.

Yvelise de Araújo Queiroz e Crepaldi
Paulo Roberto Tavares Pereira
AIL – abril/2012

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